MUITO ALÉM DO “PROGRAMA DE ÍNDIO": FIGURAÇÕES DA CULTURA INDÍGENA E POPULAR NAS NARRATIVAS GLOBAIS DE LUIZ FERNANDO CARVALHO
Em seus estudos sobre a ficção moderna que vão desde Gustave Flaubert, em seu país, a João Guimarães Rosa, em nosso, o filósofo francês Jacques Rancière enaltece o efeito democrático que certos escritores e artistas transmitem em suas obras, dotando de grandeza qualquer objeto ou tema, sem se restringir à uma linguagem intelectual e elitista. Rancière enaltece a estética de obras que não se destinam a um público específico, pois não existem sentimentos atribuíveis a este ou aquele tipo de pessoa.
À reboque dessa reflexão, as teleficções Velho Chico (2016) e Dois Irmãos (2017), produzidas pela TV Globo e dirigidas por Luiz Fernando Carvalho, podem ser concebidas como narrativas democráticas, pois apresentam histórias de pessoas comuns, cujo cotidiano corriqueiro é geralmente pautado por vivências ordinárias onde nada importante acontece.
São estéticas que representam como a vida do mais banal dos seres – e sua capacidade de sensação e de imaginação – pode ser interessante e criativa. Impossível não lembrar do tom trivial impresso pelo narrador roseano no início do conto Partida do audaz navegante: “Na manhã de um dia em que brumava e chuviscava, parecia não acontecer coisa nenhuma”. (ROSA, 2001, p. 166).
Velho Chico, um feliz acerto entre muitos erros
Tais referências ressoam na telenovela Velho Chico que tem como tema o grande rio que corta sete estados nacionais. No último capítulo do folhetim o personagem-herói Martim de Sá Ribeiro (Lee Taylor) é lembrado em uma conversa entre Afrânio de Sá Ribeiro (Antônio Fagundes), seu pai, e dona Ceci (Luci Pereira), conhecida vendedora de raízes e chás, nascida em uma tribo indígena às margens do rio Opará, nome pelo qual o seu povo conhecia o rio São Francisco. Durante a cena a presença espiritual de Martim, assassinado na história, aparece flanando tranquilamente na beira do rio enquanto se apresentavam referências à imensidão de narrativas cotidianas que ele vivenciara. Martim fala sobre a força do São Francisco, do qual também é filho, assim como os pescadores, os lavradores, as lavadeiras e os remeiros.
Fonte: https://globoplay.globo.com/v/5344936/programa/
Toda a narrativa da novela foi permeada pela representação das vivências da agricultura familiar, dos pequenos produtores, das tradições indígenas, das espiritualidades e lendas populares, em uma tentativa explícita de valorizar tais experiências. Segundo a estudiosa estadunidense de literatura brasileira, Daphne Patai, “não há histórias de vidas sem significado. Existem apenas histórias de vida com as quais nós (ainda) não nos preocupamos e cujas revelações (incluindo aquelas de estonteante trivialidade) permanecem-nos, por essa razão, obscuras. (PATAI, 2010, p. 19)
Em entrevista concedida em 2016, Luiz Fernando Carvalho ressalta a invisibilidade de grande parte da arte popular, geralmente excluída do catálogo das grandes editoras e emissoras. “Nas margens do São Francisco há um mar de poetas, gente que, infelizmente, não ganha reconhecimento ou mesmo acesso às editoras importantes do país”. (CARVALHOa).
Em Velho Chico Carvalho fez de suas lentes, pincéis para colorir existências com dignidade. Ele se propôs a pintar a poesia das comunidades ribeirinhas do rio São Francisco, deslocando-as das margens do esquecimento para o centro da memória nacional. Seu grande trunfo foi conseguir retratar com sensibilidade essa ethos popular esquecido divulgando-o para o grande público por meio da “novela das 8”, programa que se destaca por ser recorde de audiência da maior rede de televisão do País. Nesse sentido, o trabalho de Carvalho produz um processo contínuo de emancipação dos corpos e palavras de personagens da cultura popular sem cair na armadilha da caricatura e dos estereótipos fáceis.
O que Carvalho nomeou de “admirável mundo novo”, ao se referir ao tema de Velho Chico, é bem exemplificado na figura do personagem Miguel (Gabriel Leone), agrônomo cujas ideias sustentáveis se chocavam com o modelo arcaico e predatório praticado pelo avô, o coronel Afrânio. A personalidade visionária de Miguel defende que qualquer sistema é modificável e regenerável como podemos constatar no trecho abaixo:
“Aqui na floresta tem tudo o que há de mais sofisticado... a gente tem muito o que aprender com a natureza... são 4 bilhões de anos de experiência... uma simbiose, uma cooperação benéfica de todos, onde todo mundo trabalha movido pelo prazer, sem exploração, sem competição, sem rivalidade... o esforço de um que gera o bem estar de todos”
Velho Chico foi escrita a partir da concepção do consagrado dramaturgo Benedito Ruy Barbosa. É uma novela que exalta o tema da justiça social, pois a história de amor entre membros de famílias rivais, como reza a cartilha do folhetim – é obnubilada pelo destaque dado à luta pela preservação da natureza e ao anseio de ressurreição do rio São Francisco e, consequentemente, das comunidades tradicionais que lá vivem. Na narrativa a agonia do rio ameaça a sobrevivência e o estilo de vida da população sertaneja atingindo ribeirinhos, pescadores, indígenas, enfim, de toda a sociedade que é afetada pelo desequilíbrio ecológico-climático e pela desigualdade social. O tema da água, como elemento fundamental da vida, é ricamente tratado tanto pelo aspecto da sabedoria popular, como pelas questões atuais ligadas ao desenvolvimento sustentável.
A novela foge à trama batida sobre a classe média urbana branca. Seu elenco foi formado por um contingente considerável de atores mestiços e nativos. O site Memória Globo afiança que cerca de 70% dos atores de Velho Chico era do Nordeste. Carvalho alerta para o preconceito em relação em relação a cultura popular:
“A maioria de nós, burgueses, brancos e bem alimentados, persiste no preconceito em relação a nossa própria nação e sua gente simples do interior. Muitos se surpreendem com a quantidade de talento espalhado pelo fundo do País. Mas, apesar das gerações e gerações de abandono por grande parte dos governos, a vida resiste, sim. Não vou ficar aqui reclamando, prefiro agir”. (CARVALHOb)
Para Carvalho é preciso adotar uma perspectiva mais crítica e inclusiva capaz de quebrar este ciclo de silenciamento. Essa compreensão pode ser traduzida no pensamento de Djamila Ribeiro: “falar a partir de lugares é também romper com essa lógica de que somente os subalternos falem de suas localizações, fazendo com que aqueles inseridos na norma hegemônica sequer se pensem”. (RIBEIRO, 2017).
O olhar estético adotado por Luiz Fernando consegue expor com sensibilidade sertanejos e nordestinos sem recorrer ao infeliz estereótipo da miséria e da “velha praga” lobateana, que costumava retratar personagens populares como pessoas sem cultura e hábitos rudimentares. Assim, a direção de Carvalho mostrou que privações na vida não significam, automaticamente, ausência de liberdade existencial. Na obra, o diretor tentou dirimir a separação e distanciamento entre aqueles considerados agentes da história e os excluídos.
O grande acerto de Velho Chico foi questionar essa realidade excludente através personagens que lutavam pela justiça social, ressaltando a condição daqueles que precisavam vencer os males do coronelismo, altamente marcado pelo autoritarismo e a corrupção. Na estética de Carvalho, pode-se inferir que “o povo não é uma classe entre outras. É a classe do dano à comunidade e a institui como ‘comunidade’ do justo e do injusto”. (RANCIÈRE, 1996). Sua arte expõe que não pode haver transformação sem a inclusão dos sem-partes que buscam ser contados na partilha do sensível. Por isso, o diretor questiona o pacto narcísico da branquitude na TV aberta brasileira.
Estereótipos na TV
Mesmo após a consolidação do processo redemocratização do país, os direitos fundamentais nunca chegaram a ser implementados de fato para a grande maioria da população nacional. Há uma distância muito grande entre as leis constitucionais e sua aplicação à realidade, especialmente quando se vive um quadro grave e recorrente de desigualdades sociais, crises econômicas e criminalização da pobreza.
As questões levantadas por Carvalho em Velho Chico são profundas e infelizmente elas ainda são reproduzidas de forma negativa pela maioria das novelas nacionais: o pequeno número de atores negros, mestiços e indígenas na teledramaturgia; um número menor ainda interpretando personagens centrais; a praticamente inexistência de diretores e autores negros e de ascendência indígena na TV Globo; obras que não fortalecem tradições destes grupos étnicos e não valorizam suas comunidades; narrativas que reforçam estereótipos e preconceitos em relação a tais comunidades gerando choque cultural e visões excêntricas e, por fim, a prática nociva da apropriação cultural de sua imagem e costumes sem partilhar renda, negando-se a promover o reconhecimento e o intercâmbio de tradições culturais. Velho Chico é uma exceção, daí sua importância.
Exemplo notável do desserviço da teledramaturgia brasileira em relação aos povos originários foi a exibição da novela Uga Uga (mai. 2000-jan. 2001), escrita por Carlos Lombardi e dirigida por Wolf Maya. O título aviltante e as representações desrespeitosas da cultura indígena geraram revolta entre os integrantes de diversas comunidades que se viram retratados como verdadeiras atrações de circo. À época da exibição do folhetim Carlos Tucano alertou que em sua tribo, no Alto Rio Negro, havia uma TV para trezentas pessoas e os que compreendiam a língua portuguesa traduziam a obra para os demais. Ele conta que ao mesmo tempo que os nativos riam e achavam ridículo, não se viam representados e perguntavam se haviam “outras aldeias pelo Brasil parecidas com a da novela”. (TUCANO).
Os equívocos se acumulam. Quem foi capaz de engolir Priscila Fantin, branca e de olhos verdes, transformada na indígena Serena em Alma Gêmea (jun.2005-mar.2006), novela de Walcyr Carrasco com direção de Jorge Fernando? Na trama, a suposta pureza e ingenuidade da personagem representavam uma visão equivocada e romantizada do indígena como um ser à margem da civilização. Serena e suas falas pareciam saídas das páginas dos romances Iracema ou O Guarani, de José de Alencar. Só que em pleno século XXI!
Majoritária e historicamente, a teledramaturgia global é pautada por uma imagem homogeneizadora, na qual centenas de etnias são reduzidas a um padrão audiovisual preconceituoso. Aí, as escolhas estéticas/políticas pouco se diferem das brincadeiras e “fantasias de índio” tão comuns em nossa infância e tão reforçadas pela educação escolar, que ainda celebra “o dia do índio” (19 de abril) com adereços, comidas típicas e dancinhas, sem ajudar a repensar os lugares-comuns desrespeitosos que circulam em nossa sociedade e a grave privação dos direitos vivenciada por esses povos. A abordagem hegemônica reforça a visão dos povos originários como subalternos, ingênuos, ignorantes e primitivos. Tal visão gera um misto de exotismo, desconfiança, distanciamento, idealização e antipatia em relação aos indígenas por grande parte da população.
No prefácio de sua obra Cultura: a visão dos antropólogos, o sul-africano Adam Kuper argumenta que tanto o conceito de raça quanto o de cultura podem ser utilizados em favor da segregação. Kuper analisa alguns intelectuais africânders, como Max Eiselen, que defendem que a noção branca de cultura é “a base da diferença”, ou seja, uma maneira de folclorizar tais grupos acabando por excluí-los da sociedade brasileira. O alardeado respeito às fronteiras culturais, que muitas vezes é retratado como “cuidado”, seria, na verdade, fonte de preconceitos. (KUPER, 2002). Infelizmente essa postura é muito comum da teledramaturgia global revelando um componente escamoteado de paternalismo, tutela e subordinação sob a justificativa de que essas tradições poderiam perder-se de si mesmas ou em si mesmas.
Na exceção constituída por Velho Chico, o personagem Miguel era doutor em agronomia, mas reconhecia sua ignorância sobre os saberes tradicionais. Ele almejava somar o que aprendeu sobre sintropia (conciliação entre produção agrícola e recuperação de áreas degradadas simulando a regeneração natural) ao conhecimento dos indígenas e do seu pai sobre o manejo da terra na região. O desfecho feliz para as técnicas de cultivo sustentável e agroflorestamento, na novela, só se resolveu na troca não verticalizada dos saberes. Interessa a Carvalho – como a Rancière e a autora desse texto – esse intercâmbio da “igualdade de qualquer ser falante com qualquer outro ser falante” (RANCIÈRE, 1996).
Através das personagens de dona Ceci e de sua filha Beatriz em Velho Chico, Carvalho reforça que os indígenas e seus descendentes que habitavam o vilarejo de Grotas, não eram menos indígenas por não colocarem cocares e penas. Vale destacar como a importante participação de membros de tribos reais na novela – com a criteriosa encenação de suas tradições, rituais xamânicos e línguas – são eticamente retratadas pelas lentes de Carvalho.
Dois Irmãos
A minissérie Dois Irmãos, escrita por Maria Camargo, foi uma adaptação em 10 episódios do romance homônimo, de Milton Hatoum, ganhador do prêmio Jabuti de 2001. Acompanhamos na tela a vida da índia Domingas (Sílvia Waiãpi) levada para a casa de Halim (Antonio Fagundes) e Zana (Eliane Giardini) ainda criança para servir como empregada doméstica. A menina cresce servindo o casal e seus filhos gêmeos, Yaqub (Cauã Raymond), com quem acaba se envolvendo, e Omar (Cauã Raymond), que lhe estupra. Sua vida é, assim, parte da saga de ciúme, inveja e orgulho vivida por esses dois irmãos gêmeos em Manaus, entre as décadas de 1920 e 1980. A narrativa se desenrola de maneira que o telespectador fica sempre na dúvida de quem seria realmente o pai de Nael (Irandhir Santos).
O primeiro cuidado de Carvalho foi escalar três atrizes de ascendência indígena para interpretar Domingas nas diferentes fases da trama. A atriz Zahir Guajajara, que interpretou Domingas jovem, é proveniente da tribo indígena homônima nativa do interior do Maranhão. Suas palavras traduzem a preocupação em abordar o indígena como um símbolo da situação de exclusão vivenciada por muitas comunidades no país: “Domingas não representa só os indígenas, mas toda uma sociedade escrava, seja ela do trabalho, da paixão, ou da necessidade de ser livre. Cada espectador poderá se ver um pouco nela. Pode ser pela sua beleza, simplicidade, silêncio, culpa, prazer omisso e também porque cada um de nós pode ser uma Domingas de vez em quando. Domingas é o se doar”. (GUAJAJARAa)
Em declaração publicada em 2017, Guajajara, que é natural de Barra do Corda (MA), chama a atenção para outro ponto relevante: se os indígenas não cabem no mundo público da teledramaturgia para interpretar suas várias etnias, a questão se torna ainda mais grave quando pensamos que não são sequer para viverem personagens em que o fenótipo não seja o mais importante. “É difícil ter uma carreira sólida. Tem muitos papéis de índios, mas chamam atores que se parecem, não dão muita oportunidade para índios atuarem. Eu adoro fazer papéis de indígena, mas não quero estar presa a isso. Hoje temos índios em diversas profissões, então por que não posso fazer um papel de advogada, professora? Conheço artistas indígenas que são muito capazes, mas não têm oportunidade de mostrar quão bons eles são. Precisamos de pessoas que acreditem e confiem em nós, que nos deem valor do jeito que somos”. (GUAJAJARAb).
A TV Globo parece se contentar com a escalação de atores brancos que se assemelham com aparência dos personagens vistos como “silvícolas” ou “negros da terra”. Seu trabalho de casting ignora a de participação atores indígenas, daí a repetição de atores como André Gonçalves, credenciado pelo cabelo liso e pele morena, para se passar por “aborígene” em A Muralha (onde deu vida a Apingorá), Alma Gêmea (na pele de José Aristides) e em uma participação especial no Sítio do Picapau Amarelo (interpretando Juca Pirama).
Fontes: http://gshow.globo.com/Bastidores/noticia/2016/07/no-super-chef-andre-goncalves-diz-que-so-cortaria-cabelo-por-personagem.html; http://contamais.com.br/fotos/veja-a-trajetoria-de-andre-goncalves-o-aureo-de-morde-e-assopra/451; http://gshow.globo.com/programas/video-show/v2011/VideoShow/Noticias/0,,MUL1679073-16952,00;MEMORIA+ANDRE+GONCALVES+DEU+VIDA+AO+INDIO+APINGORA+EM+A+MURALHA.html
Em Dois Irmãos, assim como em Velho Chico, a etnopoética realista de LFC rompe totalmente com as “chanchadas silvícolas” de estúdio da teledramaturgia global. Ceci e Beatriz vivem no presente, com experiências sociais e afetivas “normais” e não em um passado mítico. A segunda foi eleita prefeita de Grotas e teve sua história na docência marcada pela luta pelos direitos das crianças que padecem com a ausência de condições adequadas de ensino. O poder de Beatriz foi conquistado pela busca do conhecimento letrado aliado à preservação das tradições nativas, sem qualquer apoio do Estado.
A eleição da personagem Beatriz como prefeita de Grotas, após inúmeras lutas e entraves contra velha política, pode ser vista como a representação de um contexto reparação da democracia no Brasil e na América Latina, ilustrado pela guatemalteca Rigoberta Menchu, integrante da etnia Quiché-Maia que recebeu o Prêmio Nobel da Paz, em 1992; pelo líder Uru-aimará Evo Morales, que tornou-se presidente da Bolívia no ano de 2005; e, mais recentemente, a indígena brasileira Joênia Wapichana, que foi eleita deputada federal em 2008 por Roraima, algo que não acontecia desde 1982 quando Mário Juruna foi eleito deputado pelo PDT do Rio de Janeiro. A prefeita Beatriz representa o deslocamento da periferia para o centro ao retratar a inclusão de líderes e ativistas indígenas na vida pública.
Por fim, se é possível reconhecer o estilo de uma ficção televisiva em razão de seu escritor -como no caso de Roque Santeiro e Saramandaia, escritas por Dias Gomes-, na experiência de Velho Chico e Dois Irmãos, a autoria é reconhecida pela direção sensível, inclusiva, criteriosa e consciente de Luiz Fernando Carvalho. Embora se baseie em uma estética mais consagrada pelo cinema, Carvalho é uma grata novidade na teledramaturgia global. Viva o estilo democrático e a valorização da cultura popular no horário nobre. Chega de programa de índio.
Referências biográficas
Michelle dos Santos é mestre em História e Doutora em Educação pela Universidade de Brasília (UnB). Professora de História Contemporânea e orientadora de Estágio Supervisionado na Universidade Estadual de Goiás (UEG). Integra a linha de pesquisa 1 "Cultura e Relações de Poder" no Programa de Pós-graduação em História da mesma instituição.
Referências bibliográficas
RANCIÈRE, Jacques. O desentendimento: política e filosofia. São Paulo: Editora 34, 1996.
CARVALHO, Luiz Fernando (a). Disponível em: https://jconline.ne10.uol.com.br/canal/cultura/noticia/2016/04/02/com-velho-chico-luiz-fernando-carvalho-leva-suas-raizes-nordestinas-para-a-tv-229218.php. Acesso em: 02 set. 2020.
CARVALHO, Luiz Fernando (b). Disponível em: https://istoe.com.br/8184_UM+ESTILO+DIFERENTE/. Acesso em: 28 mar. 2020.
GUAJAJARA, Zahir (a). Disponível em: http://gshow.globo.com/tv/noticia/2016/12/dois-irmaos-entenda-os-conflitos-da-indigena-domingas.html. Acesso em: 01 mar. 2020.
GUAJAJARA, Zahir (b). Disponível em: http://gshow.globo.com/tv/noticia/2016/12/dois-irmaos-entenda-os-conflitos-da-indigena-domingas.html. Acesso em: 01 mar. 2019.
KUPER, Adam. Cultura: a visão dos antropólogos. Bauru, SP: EDUSC, 2002. 14-17 p.
PATAI, Daphne. História oral, feminismo e política. São Paulo: Letra e Voz, 2010.
RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala? Belo Horizonte: Letramento; Justificando, 2017.
ROSA, João Guimarães. Primeiras estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
TUCANO, Carlos. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/tvfolha/tv1911200010.htm. Acesso em: 02 jul.2018.
Professora, boa tarde.
ResponderExcluirSou professora de Ensino Médio e vou utilizar seu texto em sala de aula porque é um dos poucos que conheço sobre o tema. Não tinha pensado nessas obras na perspectiva apresentada. A senhora conhece mais exemplos interessantes de trabalho com indígenas na Rede Globo?
Olá, boa noite. Na teledramaturgia global não, infelizmente. No jornalismo, o programa Profissão Repórter. Exemplos:
Excluirhttps://globoplay.globo.com/v/7046914/
https://globoplay.globo.com/v/8008989/
A partir desses materiais é possível fazer um bom debate em sala de aula.
Obrigada pela atenção. Abraços.
Michelle dos Santos.
Parabéns pelo texto! Tenho muito interesse na discussão indígenas-antropologia no Brasil e reparei que você citou Adam Kuper. Há outro artigo em que desenvolve e aprofunda esse debate? Procurei na internet, mas só localizei produções suas centradas no Jacques Rancière, que é filósofo. João Victor
ResponderExcluirOlá, João Victor. Boa noite. Não pesquiso história indígena tampouco a relação desta com a antropologia. Este texto derivou de um pequeno trecho de minha tese, que versa sobre a relação entre a estética antidisciplinadora e desierarquizada de Carvalho com as ideias de espectador emancipado, partilha do sensível e amadorismo de Rancière (exatamente o que localizou).
ExcluirOutrossim, li o citado livro do antropólogo sul-africano Adam Jonathan Kuper e recomendo-o. Sugiro ainda essa entrevista do autor: https://www.scielo.br/j/mana/a/6pQjkdLbhfBkPF4tPnpCrsb/?lang=pt
E esse artigo: http://ceas.iscte.pt/etnografica/docs/vol_09/N2/Vol_ix_N2_AKuper.pdf
Para saber mais: https://scholar.google.com/citations?user=LiONmJYAAAAJ&hl=en
Obrigada pela atenção. Abraços.
Michelle dos Santos.
Boa tarde
ResponderExcluirMichelle dos Santos
Em entrevista concedida em 2016, Luiz Fernando Carvalho ressalta a invisibilidade de grande parte da arte popular, geralmente excluída do catálogo das grandes editoras e emissoras. “Nas margens do São Francisco há um mar de poetas, gente que, infelizmente, não ganha reconhecimento ou mesmo acesso às editoras importantes do país”. (CARVALHOa).
Esse trecho mostra o preconceito e não reconhecimento de talentos populares que temos mundo a fora. Como quebrar o preconceito criado pela criado pela grande mídia, em relação aos talentos populares que não são reconhecidos por ela??
Olá Oleane, boa noite. Creio que democratizando-a de fato, o que no Brasil envolve um debate sério – e que é sempre preterido – sobre regulação (que não tem absolutamente nada a ver com censura e violação da liberdade de expressão). A regulação dos meios de comunicação é urgente em nosso país, pois a situação atual revela um alto nível de concentração, pouca diversidade e transparência.
ExcluirOu seja, é uma agenda política: minha, sua, de todos nós. É luta.
Obrigada pela atenção. Abraços.
Michelle dos Santos.
de 2021 13:38
ResponderExcluirBoa tarde
Michelle dos Santos
Em entrevista concedida em 2016, Luiz Fernando Carvalho ressalta a invisibilidade de grande parte da arte popular, geralmente excluída do catálogo das grandes editoras e emissoras. “Nas margens do São Francisco há um mar de poetas, gente que, infelizmente, não ganha reconhecimento ou mesmo acesso às editoras importantes do país”. (CARVALHOa).
Esse trecho mostra o preconceito, e não reconhecimento de talentos populares que temos mundo a fora. Como quebrar o preconceito criado pela criado pela grande mídia, em relação aos talentos populares que não são reconhecidos por ela??
OLEANE AMANCIO DE OLIVEIRA
Olá Oleane, boa noite. Creio que democratizando-a de fato, o que no Brasil envolve um debate sério – e que é sempre preterido – sobre regulação (que não tem absolutamente nada a ver com censura e violação da liberdade de expressão). A regulação dos meios de comunicação é urgente em nosso país, pois a situação atual revela um alto nível de concentração, pouca diversidade e transparência.
ExcluirOu seja, é uma agenda política: minha, sua, de todos nós. É luta.
Obrigada pela atenção. Abraços.
Michelle dos Santos.
Eu me chamo
ResponderExcluirOLEANE AMANCIO DE OLIVEIRA26 de maio de
Boa tarde
Michelle dos Santos
Em entrevista concedida em 2016, Luiz Fernando Carvalho ressalta a invisibilidade de grande parte da arte popular, geralmente excluída do catálogo das grandes editoras e emissoras. “Nas margens do São Francisco há um mar de poetas, gente que, infelizmente, não ganha reconhecimento ou mesmo acesso às editoras importantes do país”. (CARVALHOa).
Esse trecho mostra o preconceito e não reconhecimento de talentos populares que temos mundo a fora. Como quebrar o preconceito criado pela criado pela grande mídia, em relação aos talentos populares que não são reconhecidos por ela??
Olá Oleane, boa noite. Creio que democratizando-a de fato, o que no Brasil envolve um debate sério – e que é sempre preterido – sobre regulação (que não tem absolutamente nada a ver com censura e violação da liberdade de expressão). A regulação dos meios de comunicação é urgente em nosso país, pois a situação atual revela um alto nível de concentração, pouca diversidade e transparência.
ExcluirOu seja, é uma agenda política: minha, sua, de todos nós. É luta.
Obrigada pela atenção. Abraços.
Michelle dos Santos.
Olá boa tarde
ResponderExcluirMichelle dos Santos
A televisão prega um personagem distorcido do indígena, mostrando a ele que depois de séculos de convivência ainda há diferenças entre os dois mundos. Na sua opinião, diante do que mostra na televisão a imagem do índio branco. Como você vê essa situação
Meu nome é Oleane Amancio de Oliveira
Olá Oleane, boa noite.
ExcluirVejo como preguiça, comodismo, falta de empatia, ignorância fingida ou conveniente.
Indígenas como o xavante Miguelito Acosta, por exemplo, deixaram registrados protestos por participarem de testes na Globo, mas serem preteridos:
“Creio que, quando se trata de uma história de um povo, a forma mais fidedigna é com esse povo sendo protagonista. Conheci outros parentes no teste [para a novela Novo Mundo], atores com registro, que também não foram contemplados. Temos um grupo de WhatsApp com mais de 30 atores, nenhum deles foi chamado. Não foi por falta de atores. Começa aí o primeiro pecado. Tem que ter tempo hábil para fazer a preparação e interesse de propagar a cultura de forma fidedigna. [...]”.
Disponível em: https://tvefamosos.uol.com.br/noticias/redacao/2017/06/10/indigenas-elogiam-atores-de-novo-mundo-mas-apontam-estereotipo.htm. Acesso em: 22 jul. 2018.
O núcleo da aldeia Tucunaré de Novo Mundo (2017), novela global das 18h, perdeu assim a oportunidade de trabalhar com povos originários, aprendendo com eles, não os sugando, ao usá-los apenas como laboratório, como “objetos” do conhecimento e nunca sujeitos do conhecimento. As histórias desses povos continuam não sendo contadas, mesmo quando estão nas telas, porque o que aparece se reduz ao choque cultural, à excentricidade “da minoria”.
Abraços!
Michelle dos Santos.
Prezada professora. Conhecia o Luiz Fernando, mas sua anáilise me abriu portas para o meu TCC que é sobre televisão/regionalização/ensino. Estava caçando textos com esse tipo de pesquisa, aí achei o seu. Te escrevi um e-mail e espero que responda. abraços
ResponderExcluirOlá Jacqueline, boa noite. Fico feliz que tenha visto neste pequeno ensaio uma possibilidade de interlocução. Já respondi seu e-mail. rs Espero, sinceramente, ter ajudado por lá também.
ExcluirObrigada pela atenção. Abraços.
Michelle dos Santos.
Olá Michelle. Não conhecia o diretor e nem gosto de TV aberta, mas lendo o texto fiquei com desejo de ver. O que li traz ideias bacanas para a temática indígena na educação básica, diferente de muitos textos presentes nesse evento que gosto muito. Estou buscando pesquisas desse assunto que me ajudem no dia a dia.... Obrigada! Muito obrigada.
ResponderExcluirOlá, Clarice Lisboa. Boa noite. Fiquei muito feliz quando li o seu comentário. Um incentivo e tanto!
ExcluirE este simpósio é um excelente campo para as suas (nossas!) buscas por inspiração no trabalho de sala de aula.
Abraços!
Michelle dos Santos.
Primeiramente gostaria de parabenizar a professora Michelle pelo maravilhoso trabalho. É interessante refletir obras como "velho Chico" e “Dois irmãos”, visto que elas não trabalham com o mito do "bom selvagem" ou caricaturas forçadas, o que é raro mas de suma importância para podermos pensar que no Brasil não existe um índio, e sim, uma multiplicidade de povos indígenas espalhados pelo país com suas vivências e particularidades, que não só existem como uma raça, mas como indivíduos próprios. Trabalhos assim também são relevantes para darmos vozes para pessoas além do homem branco de classe média nas telas brasileiras, em que estas podem e devem interpretar e participar de obras, não apenas mostrando uma raça única como representante de toda a população deste vasto país. A partir disto, como a senhora pensa a importância de trabalhos como o projeto quadrante para a televisão (tendo em vista a quantidade de pessoas que esta atinge), cujo um dos objetivos é utilizar-se de atores locais para a construção da obra?
ResponderExcluirAmanda da Silva Neto
Boa noite, Amanda.
ExcluirO projeto é interessante em muitos aspectos - além deste que citou, é claro - ressalto alguns: 1. não trabalhar com as 4 localidades escolhidas como cartões-postais (usando a Paraíba e a cidade de Manaus, por exemplo, apenas como cenário e espaço para exotismos e estranhamentos) e deslocar três dessas localidades (Paraíba, Manaus e Porto Alegre) do eixo Rio-São Paulo; 2. dialogar com a literatura, ou, para usar uma expressão de Cristiane Passafaro Guzzi, com a “literariedade pela imagem”. A autora é uma referência importante para esse segundo ponto, pois trata as adaptações do diretor como “uma espécie de crítica contemporânea da literatura em novo suporte. 3. evitar o autoplágio, ou seja, experimentar e testar os limites da TV aberta em cada obra que compõe o quadrante. Ou seja, cada obra do projeto tem sua própria história de pré-produção, produção e pós-produção e de tentativa de diálogo com o telespectador.
Lembro que “Dançar tango em Porto Alegre”, de Faraco, não foi realizada, ou seja, adaptada por Carvalho para a TV. O quadrante é, assim, um projeto incompleto.
Caso tenha interesse, leia:
GUZZI, Cristiane Passafaro. Por uma imagem da literatura: a poética do escancaramento do diretor Luiz Fernando Carvalho. 2015. 359 f. Tese (Doutorado em Estudos Literários) – Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Araraquara, 2015. Disponível em: http://hdl.handle.net/11449/126584. Acesso em: 05 maio 2017.
Obrigada pela atenção. Abraços.
Michelle dos Santos.
Parabéns, Professora Michelle, o ensaio ficou de uma sensibilidade incrível, o desenvolvimento dos pontos tão lineares e a sutileza ao tratar de temas tão profundos e importantes, não esperava nada menos, e ao uso de imagens que deixa a leitura e assimilação ainda melhores (não poupo elogios). O ponto que mais me chama atenção é sobre as representatividades e os estereótipos utilizados, como uma pessoa do meio LGBT que vivencia isso, acaba sendo fácil a empatia com outras minorias, pregar e dizer que seu elenco tem 70% de grupos minoritários é muito importante, mas, nenhum participa de cargos importantes na produção ou direção dessa novela. Isso se estende a outras áreas, como empresas que se utilizam dessa falas para pregar um igualitarismo, entretanto, possuem casos de racismo, LGBTfobia, sexismo e etc.
ResponderExcluirBoa noite, Lucas Tavares.
ExcluirObrigada pelo comentário caloroso e pela crítica sensível. É isso mesmo, ainda é pouco!
Desafiar “o coro dos contentes da TV” faz parte da nossa luta diária para causar danos em consensos policiais em todo lugar.
Imagens e sons não são apenas ornamentos ou a expressão de opiniões –imagens e sons acabam por formar o tecido social, a vida em comum: o que vemos, o que ouvimos, quem pode falar ou mostrar; como você (gay, indígena etc.) aparece na fala ou na imagem de certo filme, cartaz, propaganda, aula etc. E, principalmente, se aparece, se fala.
Por exemplo (sobre outra obra de teleficção), em março de 2017, quando foi noticiado que Carol Duarte, uma atriz cisgênero, ficaria com o papel da transgênero Ivana em A Força do Querer, o Movimento Nacional de Artistas Trans reagiu. Em seu manifesto, lemos o seguinte: “Nós estamos aqui e existimos. Cansamos de servir apenas como experimentos cênicos para teatro, cinema, televisão e trabalhos acadêmicos. Queremos e precisamos de oportunidades e emprego”.
Disponível em: http://www.diarioonline.com.br/entretenimento/cultura/noticia-449022-telenovela-causa-debate-sobre-representacao-de-culturas-na-ficcao.html. Acesso em: 01 mar. 2019.
É isso: movimento social! Denunciar, expor, protestar.
Abraços!
Michelle dos Santos.
Boa noite, Lucas Tavares.
ResponderExcluirObrigada pelo comentário caloroso e pela crítica sensível. É isso mesmo, ainda é pouco!
Desafiar “o coro dos contentes da TV” faz parte da nossa luta diária para causar danos em consensos policiais em todo lugar.
Imagens e sons não são apenas ornamentos ou a expressão de opiniões –imagens e sons acabam por formar o tecido social, a vida em comum: o que vemos, o que ouvimos, quem pode falar ou mostrar; como você (gay, indígena etc.) aparece na fala ou na imagem de certo filme, cartaz, propaganda, aula etc. E, principalmente, se aparece, se fala.
Por exemplo (sobre outra obra de teleficção), em março de 2017, quando foi noticiado que Carol Duarte, uma atriz cisgênero, ficaria com o papel da transgênero Ivana em A Força do Querer, o Movimento Nacional de Artistas Trans reagiu. Em seu manifesto, lemos o seguinte: “Nós estamos aqui e existimos. Cansamos de servir apenas como experimentos cênicos para teatro, cinema, televisão e trabalhos acadêmicos. Queremos e precisamos de oportunidades e emprego”.
Disponível em: http://www.diarioonline.com.br/entretenimento/cultura/noticia-449022-telenovela-causa-debate-sobre-representacao-de-culturas-na-ficcao.html. Acesso em: 01 mar. 2019.
É isso: movimento social! Denunciar, expor, protestar.
Abraços!
Michelle dos Santos.
De onde tirou o termo “chanchadas silvícolas”, queria usar?
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