Junior Benedito Pleis e Talita Seniuk

PROPOSTA INTERDISCIPLINAR ENTRE MATEMÁTICA E HISTÓRIA NUMA COLEÇÃO MATEMÁTICA INDÍGENA DO ESTADO DE MATO GROSSO

 

Este trabalho apresenta uma breve proposta interdisciplinar alinhada à Base Nacional Comum Curricular com base numa coleção matemática indígena do Estado de Mato Grosso. O artigo estrutura-se em quatro tópicos: As origens; A iniciativa; O material; A proposta; seguidos pelas considerações, referências biográficas e bibliográficas, respectivamente. 

 

As origens

 

Os livros didáticos bilíngues de Matemática, referenciais centrais deste artigo, possuem suas origens no Projeto Haiyô de 2005 da Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso que tinha como objetivo a formação em nível de Ensino Médio (Magistério Intercultural) a profissionalização de professores índios para exercício da docência na rede estadual de ensino em suas respectivas aldeias. Os participantes passaram por uma seleção nas suas comunidades e toda a formação foi pensada com um currículo diferenciado para as especificidades de cada grupo. 

 

Iniciaram trezentos alunos, de trinta e uma etnias diferentes que passaram por dez etapas durante a capacitação que ocorreu em serviço, ou seja, esses docentes já estavam em sala de aula nesse período. Algumas etapas presenciais demandaram dias de férias escolares, respeitando as particularidades de cada professor; sendo descentralizadas em cinco polos para facilitar a articulação: Juína, Canarana, Campinápolis, Xingu (Alto) e Xingu (Médio). 

 

Em 2010, ao final do projeto profissionalizaram-se duzentos e oitenta professores índios aptos para trabalhar no Ensino Fundamental I, uma vez que o ensino dessa etapa não é responsabilidade exclusiva dos municípios dentro do estado, que também possui várias escolas das séries iniciais e a educação indígena se insere nessa dualidade também. A palavra Haiyô pertence ao povo Nambikwara e possui vários significados como “bom, muito bom, quero aprender” (MATO GROSSO, 2021). 

 

A iniciativa

 

Onze volumes de Matemática foram produzidos durante o Projeto Haiyô como forma de registrar e operacionalizar a vivência dos envolvidos. Publicados em 2021, são destinados a oito etnias diferentes em formato bilíngue, na língua materna de cada etnia e em português; contemplando os povos: Manoki-Irantxe, Cinta Larga, Haliti-Paresí, Kayabi, Myky, Rikbaktsá, Nambikwara (Sabane, Katitaurlu e do Vale do Guaporé), Terena e Pangyjej-Zoró. 

 

Os volumes foram impressos através de um convênio entre Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso (SEDUC) e Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para serem distribuídos nas respectivas aldeias, totalizando cinco mil e oitocentos exemplares, que também podem ser acessados no formato virtual de forma gratuita e com acesso livre. 

 

Apesar de serem um material de Matemática, seu conteúdo extrapola os limites da área de exatas e dialoga com outras áreas, como afirmou o Secretário Estadual de Educação, Alan Resende Porto, numa entrevista no lançamento dos exemplares: 

 

“Certamente estes livros serão fonte de riquezas culturais, materiais e imateriais, que permeiam o cotidiano das comunidades e refletirão no futuro, não somente como uma imagem ou um texto, mas também como um instrumento da identidade de cada um dos seus autores” (MATO GROSSO, 2021). 

 

Vale ressaltar que a oferta de referenciais que estejam em consonância com a realidade escolar indígena é bastante escassa em nosso país, mesmo com centenas de etnias e aldeias que resistem, como defendeu Lúcia Aparecida dos Santos, Superintendente de Diversidade da Secretaria de Estado de Educação, no mesmo evento: 

 

“Estes livros são inéditos no país. São poucos os materiais didáticos e paradidáticos existentes à disposição da comunidade indígena, pois a diversidade de etnias é grande. Por isso, a imensa importância de termos conseguido imprimir o material, pois é, na verdade, mais um marco na evolução da educação indígena” (MATO GROSSO, 2021).

 

Durante a confecção do material até sua impressão foram envolvidas diversas áreas e subáreas do governo estadual, bem como o Conselho Estadual de Educação Escolar Indígena, além claro, dos autores dos textos e ilustradores dos livros, representantes de suas etnias e participantes diretos do Projeto Haiyô.         

 

O material

 

A coleção permite seu uso tanto pelos docentes quanto pelos discentes. No caso dos professores, serve como guia para definir e planejar as aulas a partir dos objetos de conhecimento apresentados (MATO GROSSO, 2021, p. 5); para os estudantes como mediador da compreensão e construção de conceitos matemáticos (MATO GROSSO, 2021, p. 5). Nas duas situações há uma contextualização da realidade para todos os envolvidos na educação, valorizando práticas da etnomatemática da cultura indígena. 

 

“Os textos apresentam conceitos básicos de matemática de base decimal na perspectiva de ensino escolar intercultural e devem ser ensinados a partir dos etnosaberes e etnomatemática de cada povo indígena.” (MATO GROSSO, 2021, p. 5) 

 

O livro Matemática Cinta Larga contou com Adriana Maãn Cinta Larga, Ana Terra Cinta Larga, Beatriz Cinta Larga, Carlos Man Cinta Larga, Edir Cinta Larga, Felipe Kakin Cinta Larga, Fátima Cinta Larga, Jorge Cinta Larga, Luciano Cinta Larga, Luis Cinta Larga, Milton Cinta Larga (Juína), Milton Cinta Larga (Aripuanã), Rosana Cinta

Larga, Sônia Cinta Larga, Ricardo Cinta Larga, Valda Cinta Larga que atuaram como autores dos textos e das ilustrações. 

 

O exemplar conta com História da Matemática do Povo Cinta Larga; seguido por Noções de grandeza, Números e desenho, Formas de medida do Povo Cinta Larga, Adição, Subtração, Multiplicação, Divisão, As formas geométricas dos artesanatos, Pinturas corporais, O tempo na cultura Cinta Larga, Calendário do Povo Cinta Larga; seguidos pelo Jogo da Serpente e Jogo da Memória; finalizando com Página de Exercícios. 

 

No volume Matemática Haliti-Paresí temos como responsáveis pelos textos e ilustrações Andreia Sônia Nezokenazokero, Eliane Aparecida Zoizocairose, Jurandir Zezokiware, Valdomiro Okenozokemae, Mauro Azokemazokae, Dejair Hokixokeme, Felinto Azonazokai.

 

A divisão dos assuntos ocorre da seguinte forma: A Matemática do Povo Haliti-Paresí, A confecção do artesanato, Noções de grandeza, Noções de posição, Números ordinais, Pinturas corporais, Tempo, Calendário do tempo, Conjuntos, Adição, Subtração, Multiplicação, Divisão, Formas geométricas, Números e desenhos, Jogo da memória. 

 

No Matemática Kayabi há a autoria dos textos e das ilustrações de Awer Kayabi, Cezarina Krey Leite Tukumã, Dineva Maria Kayabi, Dionisio Mairaiup, Esmeraldo Myau Kayabi, Eroit Kayabi, Maria Suzana Kujajup e Juparejup Kayabi. Os temas dividem-se em: História da Matemática do Povo Kayabi, Noções de grandeza, Noções de posição, Conjuntos, Números e desenhos, Adição, Subtração, Multiplicação, Divisão, Números Ordinais, As formas geométricas dos artesanatos, A Matemática no artesanato, Calendário Kayabi da Aldeia Kururuzinho e Ka’Afã, Calendário Kayabi de Juara, Jogo da Memória. 

 

No livro Matemática Manoky-Irantxe os responsáveis pelos textos e pelas ilustrações são Edivaldo Lourival Mampuche e José Pedro Venâncio Ulipyace. Transcorre-se pela Importância do artesanato, Noções de grandeza, Origem das pinturas do Povo Irantxe-Manoky, Figuras geométricas, Números e desenho, Figuras geométricas dos artesanatos, Adição, Subtração, Multiplicação, Divisão, Calendário anual e Jogo da memória. 

 

No exemplar Matemática Myky figuram entre autores dos textos e das ilustrações Kawyxi Myky, Jaukai Myky, Umena Myky, Kiwuxi Myky, Wajakuxi Myky, Jaapatau Myky, Kawyxi Myky e Tupy Myky. A disposição dos assuntos compreende A grande caçada, Matemática Myky, Formas geométricas, Contando na língua dos Myky, Sequência dos números, Conjuntos, Adição, Subtração, Multiplicação, Divisão, Medidas, Tempo, Calendário anual, Formas geométricas no cotidiano da aldeia, Jogo da memória.

 

A obra Matemática Nambikwara do Vale do Guaporé contou com Adriana Negarotê, Leonel Mamaindê e Maria Aparecida Mamaindê como responsáveis pelos textos e pelas ilustrações; que segue a ordem Matemática do Povo Nambikwara do Vale, Noções de grandeza, A Matemática das festas tradicionais do Povo Nambikwara do Vale, Números e desenhos, Conjuntos, Números ordinais, Adição, Subtração, A Matemática das pinturas corporais, Multiplicação, Divisão, A Matemática dos artesanatos, Calendário anual do Vale, Atividades e fenômeno de cada mês, Jogo da memória. 

 

No volume Matemática Pangyjej-Zoró os autores dos textos e das ilustrações foram

Amin Zoró, Arlindo Zoró, Carlos Zoró, Rosa Zoró e Waratan Zoró. Articula-se o assunto em História da Matemática do Povo Zoró, Noções de posição, Adição, Subtração, Multiplicação, Divisão, Números de 0 a 100, Formas de medida do Povo Zoró, Números pares, Números ímpares, Calendário do Povo Zoró, As formas geométricas, As formas geométricas dos artesanatos e Jogo da memória. 

 

Em Matemática Rikbaktsá contribuíram Andre Apyton Rikbakta, Arnildo Jokmaba Rikbakta, Darilene Warote Rikbaktsa, Danilo Emerson Ribeiro Ado, Duino Rikbakta, Edson Utumy Rikbakta, Elcio Rikbakta, Heide Biktsawa Rikbaktsa, Idinei Zotsitsa, Juarez Paimy e Marileide Memo Rikbaktatsa enquanto autores dos textos e das ilustrações. A discussão permeia A Matemática Rikbaktsá, Noções de grandeza, Noções de posição, Números e desenhos, Conjuntos, Adição, Subtração, Multiplicação, Divisão, Números ordinais, Calendário Rikbaktsá, Jogo da memória e Página de exercícios.

 

O livro Matemática Terena teve a autoria dos textos e das ilustrações por apenas uma pessoa, Sirlene Correia Da Silva Terena. Os assuntos seguem a ordem: A Matemática do Povo Terena, Noções de posição, Noções de grandeza, Adição, Subtração, Multiplicação, Divisão, Matemática presente nas pinturas, Números ordinais, Números ímpares, Números pares, Números e desenhos, Jogo da memória e Página de exercícios. 

 

Na matemática Nambikwara Sabane participaram da autoria dos textos e das ilustrações Adriano Tawandê, Antônio Manduca, Eduardo Sabanê e Jair Sabanê. As temáticas transcorrem entre Matemática do Povo, Noções de grandeza, Noções de posição, Números e desenhos, Conjuntos, Pintura Corporal, Adição, Subtração, Multiplicação, Divisão, As formas geométricas dos artesanatos, Calendário, Jogo da memória, Página de exercícios. 

 

Já em Matemática Nambikwara Katitaurlu participaram Heleno Katitaurlu, Marino Katitaurlu, Taína Katitaurlu e Reginaldo Katitaurlu como autores dos textos e das ilustrações. O mesmo conta com A Matemática dos Katitaurlu, Noções de posição, Noções de grandeza, Sequência dos números, Números e desenhos, Conjuntos, Adição, Subtração, Multiplicação, Divisão, Figuras geométricas, As formas geométricas dos artesanatos, Jogo da memória. 

 

Vale ressaltar que todos os exemplares possuem antes de adentrarem nas temáticas a serem abordadas uma Apresentação e Orientações Pedagógicas que norteiam tanto o leitor quanto o usuário do material enquanto ferramenta de ensino aprendizagem, além de uma riqueza de ilustrações. E a maioria possui Jogo da Memória e Página de Exercícios ao final das obras. 

 

A proposta

 

Partindo-se da premissa que a educação formal, aquela concretizada nas ações da escola vai ao encontro da informal, construída pela sociabilidade dos estudantes com a família e a comunidade (LAKATOS, MARCONI, 2014) na busca da formação de um sujeito em sua plenitude, como a própria Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do Ensino Fundamental apresenta como objetivo, o desenvolvimento de habilidades e competências (BNCC, 2017) que visam a construção de um cidadão em sua totalidade, que através dessa educação se referenciam além dos muros escolares e por toda a sua vida, ações que dialoguem com várias temáticas articulando saberes de áreas distintas se mostra essencial. 

 

Apesar da coleção em evidência tratar da Matemática, seus modos de percebê-la e operacionalizá-la dentro de cada etnia, a questão cultural mostra-se intrínseca ao se folhear os livros, permitindo seu uso muito além do proposto inicialmente. Estão presentes elementos sócio-históricos, geográficos e artísticos que são usados para contextualizar os objetos de conhecimentos matemáticos, que podem ser usados por outras disciplinas isoladas, ou ainda, através de projetos interdisciplinares. 

 

“Do ponto de vista pedagógico representam a possibilidade concreta de materiais didáticos específicos para alunos e professores indígenas, visto que valorizam a língua materna, os conhecimentos matemáticos e a cultura de cada povo. Da mesma forma, os textos e ilustrações trazem os mitos e histórias que são pilares da cultura indígena. Certamente serão fonte de riquezas culturais, materiais e imateriais, que permeiam o cotidiano das comunidades e refletirão no futuro, não somente como uma imagem ou um texto, mas também como um instrumento da identidade de cada um dos seus autores” (MATO GROSSO, 2021, p.4).

 

Em nove dos onze livros da coleção existe um tema em comum que introduz os assuntos que serão abordados e permite o diálogo inicial entre as disciplinas de Matemática e História que pode ser explorado, considerando as informações sócio-históricas que se delineiam até alcançar seu objetivo matemático (História da Matemática do Povo Cinta Larga, A Matemática do Povo Haliti-Paresi, História da Matemática do Povo Kayabi, Matemática do Povo Nambikwara do Vale, A Matemática dos Katitaurlu, Matemática do Povo (Sabane), História da Matemática do Povo Zoró, A Matemática Rikbaktsa, A Matemática do Povo Terena). Trata-se de um referencial que contempla as origens de cada povo e como passaram a perceber a Matemática em seu cotidiano, usando como base seus antepassados e referindo-se temporalmente à eles como “antigamente”. Apenas nas obras das etnias Manoki-Irantxe e Myky eles não estão presentes.

 

Outros capítulos que permitem essa articulação são aqueles que tratam das pinturas corporais especificamente (Cinta Larga, Haliti-Paresí, Nambikwara-Sabane) e o Matemática presente nas Pinturas dos Terena que além de buscarem apresentar as concepções geométricas dos desenhos, ressaltam questões de pertencimento e estratificação social dentro de cada etnia, além de usos em datas importantes. E ainda, o tema Origem das Pinturas do Povo Irantxe-Manoki desenvolve suas concepções mitológicas a respeito dessa manifestação e A Matemática nas Pinturas Corporais dos Nambikwara do Vale do Guaporé demonstram essa representação como prática religiosa e de guerra indo muito além da questão estética. 

 

Seguindo por esse viés, no que tange o artesanato as temáticas A Confecção do Artesanato da etnia Haliti-Paresí ressalta que as mulheres são praticamente excluídas dessa atividade; a Importância do Artesanato do povo Manoki-Irantxe que traz um panorama de abandono da cultura artesã que tem sido revivida pela comunidade, em especial, no artesanato corporal e A Matemática dos Artesanatos dos Nambikwara do Vale do Guaporé demonstra-o como artesanato indígena, passado de geração em geração, entretanto, homens e mulheres produzem objetos específicos, não sendo possível que o grupo feminino faça artesanato masculino e vice-versa. 

 

No exemplar dos Nambikwara do Vale do Guaporé há um capítulo abordando suas festas, A Matemática das Festas Tradicionais do Povo Nambikwara do Vale, onde são indicadas algumas etapas de preparação, necessárias para a realização das festividades que envolvem desde a organização da aldeia, caçada, danças, divisão dos alimentos. 

 

O tempo também é abordado sob o viés cultural de cada etnia, sendo trabalhado O Tempo na Cultura Cinta Larga que tem referenciais nos astros e na natureza para mensurá-lo; o Tempo (Myky e na Haliti-Paresí) onde naquela aparece como base as estações do ano e o uso de uma corda com nós como objeto para marcar o tempo, e nesta última a divisão entre o tempo da seca e o da chuva que orienta todas as atividades da aldeia. 

 

Dentro de uma concepção de medição do tempo, o assunto calendário também impera em quase todas as obras, Calendário do Povo Cinta Larga, Calendário do Tempo (Haliti/Paresí), Calendário Kayabi da Aldeia Kururuzinho de Ka´Afã e Calendário Kayabi de Juara, Calendário Anual (Manoki-Irantxe e Myky), Calendário (Nambikwara-Sabane), Calendário do Povo Zoró, Calendário Rikbaktsa, Calendário Anual do Vale e Atividades e Fenômenos de cada mês; todos demonstrando quais atividades e festividades pertencem a cada mês ou marco temporal da etnia, bem como os alimentos que são colhidos e o clima esperado em cada época. 

 

No que tange a relação aqui proposta entre Matemática e História e o pertencimento das obras ao segmento educacional do Ensino Fundamental I, a operacionalidade das propostas melhor se encaixa em atividades no 6° ano do Ensino Fundamental II devido ao processo de transição que ocorre entre as etapas, a recém concluída e a que se inicia na vida dos estudantes, demonstrando que o conhecimento não é algo fragmentado, mas construído de forma coletiva entre as ciências. 

 

Nesse sentido, seguindo-se por esse viés e nos capítulos apresentados acima que tratam de objetos de conhecimento da Matemática com contexto histórico, essa proposta interdisciplinar atende em História a unidade temática História, tempo, espaço e formas de registro, os objetos de conhecimento contemplam A questão do tempo, sincronias e diacronias: reflexões sobre o sentido das cronologias e As origens da humanidade, seus deslocamentos e os processos de sedentarização; está contemplando a habilidade EF06HI05 – Descrever modificações da natureza e da paisagem realizadas por diferentes tipos de sociedade, com destaque para os povos indígenas originários e povos africanos, e discutir a natureza e a lógica das transformações ocorridos (BNCC, 2017) e aquela EF06HI01 – Identificar diferentes formas de compreensão da noção de tempo e de periodização dos processos históricos (continuidades e rupturas) (BNCC, 2017). 

 

Já na Matemática a unidade temática Números é parcialmente atendida, colaborando com os objetos de conhecimento Sistema de numeração decimal: características, leitura, escrita e comparação de números naturais e de números racionais representados na forma decimal; e Operações (adição, subtração, multiplicação, divisão e potenciação) com números naturais. Respectivamente as habilidades EF06MA01 – Comparar, ordenar, ler e escrever números naturais e números racionais cuja representação decimal é finita, fazendo uso da reta numérica, EF06MA02 – Reconhecer o sistema de numeração decimal, como o que prevaleceu no mundo ocidental, e destacar semelhanças e diferenças com outros sistemas, de modo a sistematizar suas principais características (base, valor posicional e função do zero), utilizando, inclusive, a composição e decomposição de números naturais e números racionais em sua representação decimal e EF06MA03 – Resolver e elaborar problemas que envolvam cálculos (mentais ou escritos, exatos ou aproximados) com números naturais, por meio de estratégias variadas, com compreensão dos processos neles envolvidos com e sem uso de calculadora (BNCC, 2017) são trabalhadas.

 

Vale ressaltar que ambas unidades temáticas, objetos de conhecimento e habilidades citadas fazem parte da operacionalização das disciplinas já no primeiro bimestre escolar, servindo como revisão de assuntos já discutidos durante o Ensino Fundamental I e como retomada de habilidades que serão desenvolvidas. Outro fator que merece destaque, é que atende parcialmente também ao Documento de Referência Curricular para Mato Grosso Ensino Fundamental Anos Finais em História no objeto de conhecimento Diversidade de povos e culturas que contribuíram para a formação do Estado de Mato Grosso (MATO GROSSO, 2018, p. 252). Não obstante, são um ponto de partida de objetos de conhecimento e habilidades que serão trabalhados em outros bimestres, pois estes também se articulam numa teia complexa que extrapola limites bimestrais.

 

Considerações

 

A iniciativa da Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso em recuperar os materiais produzidos durante o Projeto Haiyô e torná-los públicos e acessíveis, demonstra uma valorização dos integrantes do projeto, dos autores dos textos e das ilustrações, bem como o respeito pela diversidade étnica para com os povos originários do estado. Ainda que os objetivos da coleção almejam conhecimentos matemáticos, seu alcance excede os limites impostos a priori e evidencia a relevância da história local como um saber derivado, da comunidade com seu espaço (GRAÇA FILHO, 2009) e permite para os docentes uma possibilidade de uso diferente que reflete o mosaico cultural mato-grossense.   

 

Referências biográficas 

 

Junior Benedito Pleis é licenciado em Matemática (UniCesumar) e Física (UNIMES); pós-graduado em Metodologia do Ensino em Matemática (Eficaz), em Metodologia do Ensino da Física e Educação do Campo, Indígena e Quilombola (Eficaz). Atualmente é Professor de Matemática, Física e Química da Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso (SEDUC/MT).

 

Talita Seniuk é licenciada em História (UEPG), Ciências Sociais (UMESP) e Filosofia (UNIMES); pós-graduada em Metodologia do Ensino de História e Geografia (CESUMAR) e Ensino de Sociologia (UCAM). Atualmente é Professora de História, Sociologia e Filosofia da Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso (SEDUC/MT), colunista do Jornal Ucraniano Prácia (Праця) e colaboradora do Blog Exílio-migração política.

 

Referências bibliográficas

 

BRASIL. Base nacional comum curricular - BNCC. Ministério da Educação. Disponível em http://basenacionalcomum.mec.gov.br

 

GRAÇA FILHO, Afonso de Alencastro. História, região & globalização. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.

 

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Sociologia Geral. São Paulo: Atlas, 2014.

 

MATO GROSSO. Documento de Referência Curricular para Mato Grosso Ensino Fundamental Anos Finais - DRC. Secretaria de Estado de Educação. Cuiabá, 2018.  

 

MATO GROSSO. Secretaria de Estado de Educação. Governo de MT envia livros didáticos bilíngues para comunidades indígenas; primeira remessa segue para aldeia Kururuzinho. Disponível em http://www3.seduc.mt.gov.br/-/16766319-governo-de-mt-envia-livros-didaticos-bilingues-para-comunidades-indigenas-primeira-remessa-segue-para-aldeia-kururuzinho 

 

MATO GROSSO. Secretaria de Estado de Educação. Matemática Cinta Larga. Coletânea Matemática. Cuiabá: Gráfica Print, 2021. 

 

MATO GROSSO. Secretaria de Estado de Educação. Matemática Haliti Paresí. Coletânea Matemática. Cuiabá: Gráfica Print, 2021. 

 

MATO GROSSO. Secretaria de Estado de Educação. Matemática Kayabi. Coletânea Matemática. Cuiabá: Gráfica Print, 2021. 

 

MATO GROSSO. Secretaria de Estado de Educação. Matemática Manoki Irantxe. Coletânea Matemática. Cuiabá: Gráfica Print, 2021. 

 

MATO GROSSO. Secretaria de Estado de Educação. Matemática Myky. Coletânea Matemática. Cuiabá: Gráfica Print, 2021. 

 

MATO GROSSO. Secretaria de Estado de Educação. Matemática Nambikwara do Vale do Guaporé. Coletânea Matemática. Cuiabá: Gráfica Print, 2021. 

 

MATO GROSSO. Secretaria de Estado de Educação. Matemática Nambikwara Katitaurlu. Coletânea Matemática. Cuiabá: Gráfica Print, 2021. 

 

MATO GROSSO. Secretaria de Estado de Educação. Matemática Nambikwara Sabane. Coletânea Matemática. Cuiabá: Gráfica Print, 2021. 

 

MATO GROSSO. Secretaria de Estado de Educação. Matemática Pangyjej Zoró. Coletânea Matemática. Cuiabá: Gráfica Print, 2021. 

 

MATO GROSSO. Secretaria de Estado de Educação. Matemática Rikbaktsa. Coletânea Matemática. Cuiabá: Gráfica Print, 2021. 

 

MATO GROSSO. Secretaria de Estado de Educação. Matemática Terena. Coletânea Matemática. Cuiabá: Gráfica Print, 2021.  

10 comentários:

  1. A proposta interdisciplinar entre as áreas de História e Matemática apresenta-se como inovadora, tanto para o Estado de Mato Grosso quanto para o contexto nacional brasileiro da Educação. A proposta é clara e fundamentada. Uma questão: a proposta contempla a discussão sobre estratificação social indígena? Assunto mencionado que fiquei curioso para saber um pouco mais. Por fim, o tema é novidade para mim como professor e historiador e certamente compartilharei essa temática com os colegas. Excelente e vocês estão de parabéns, Talita Seniuk e Junior Pleis. Assino, Luiz Gustavo Martins da Silva.

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    1. Olá Luiz Gustavo, agradecemos as considerações e o questionamento!
      É possível com essa coletânea trabalhar de modo bastante sucinto a questão da estratificação, mas no viés da hierarquia dentro do grupo. Por exemplo, no volume que trata da etnia Haliti Paresi, já na primeira página os autores apresentam uma situação hipotética de divisão da carne proveniente de uma caçada coletiva como seria distribuída na aldeia cotidianamente, usando referenciais de hierarquia. Ainda, demonstram como seria a divisão desse alimento num dia de festa tradicional, que difere do habitual. Há exemplares que possuem uma breve explanação dessa questão e outros que não.
      Caso tenha interesse em conhecer os e-books, entre em contato pelo email talitaseniuk@gmail.com pois não conseguimos inserir o link aqui (ele some).
      Agradecemos, Junior e Talita.

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    2. Muito obrigado pela clareza e sugestão da fonte! Vou entrar em contato. Abraços. Assino, Luiz Gustavo Martins da Silva.

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  2. Com certeza esse é um grande e novo projeto.
    Minha curiosidade é apenas em saber, os professores de Matemática tiveram um preparo em História?

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    1. Olá! Agradecemos o questionamento!
      Os professores que participaram da formação que originou a coletânea atuam na etapa de Ensino Fundamental I dentro das aldeias, portanto, possuem magistério ou pedagogia, não são obrigados necessariamente a ter formação em áreas de conhecimento em separado. Como o foco era a produção de materiais em Matemática, imaginamos que tenham utilizado a História como uma forma auxiliar de alcançar o objetivo inicial. Os demais docentes da rede estadual, não-indígenas, que lecionam em outras escolas (quilombolas, urbanas, campo) não tiveram capacitação para uso desses referenciais em sua prática; eles foram apresentados à comunidade como uma notícia. Talvez, a partir de agora haja uma mobilização para que se expanda o projeto para outras disciplinas.
      Caso tenha interesse em conhecer os e-books, entre em contato pelo email talitaseniuk@gmail.com pois não conseguimos inserir o link aqui (ele some).
      Agradecemos, Junior e Talita.

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  3. Por isso que é bom estudar e interagir, na medida do possível, com os mais diversos campos do saber, pois assim, ampliamos nosso conhecimento que fará uma grande diferença tanto na jornada docente quanto acadêmica. Quero parabenizá-los pelo trabalho que sem dúvidas vai contribuir com a perspectiva de muitos estudiosos dessa temática. Na minha área, que é linguagem, GRITAM, (não no sentido pejorativo) abordagens que tratem dessas temáticas, principalmente, no que tange o assunto indígena. E essa, é uma forma de difundir e multiplicar o que já se tem produzido sobre o tema.
    Certo de que, o conhecimento se multiplica quando o dividimos, despeço-me agradecido pelas vossas contribuições com o campo científico!
    Wagner Pereira de Souza

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    1. Olá Wagner, agradecemos as considerações!
      Então, apesar do nosso país ter uma extensão continental que é diretamente proporcional a sua diversidade cultural, tornando o Brasil um verdadeiro mosaico cultural, ainda há poucos materiais que versam sobre os povos originários e sua riqueza. É sabido que esse tema tem sido debatido cada vez mais, mas ainda somos reféns de uma pequena quantidade de materiais didáticos ou que possam referenciar nossa prática docente. Esperamos que esse projeto se estenda para outras áreas do saber e com isso possa, além de facilitar nossa vida enquanto professores, valorizar e difundir a cultura mato-grossense!
      Caso tenha interesse em conhecer os e-books, entre em contato pelo email talitaseniuk@gmail.com pois não conseguimos inserir o link aqui (ele some).
      Agradecemos, Junior e Talita.

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  5. Com certeza esse é um grande e novo projeto.
    Minha curiosidade é apenas em saber, os professores de Matemática tiveram um preparo em História? (mesma pergunta, tinha esquecido de assinar.)

    Natanael Soares da Silva

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  6. Olá, Natanael! Agradecemos o questionamento!
    Os professores que participaram da formação que originou a coletânea atuam na etapa de Ensino Fundamental I dentro das aldeias, portanto, possuem magistério ou pedagogia, não são obrigados necessariamente a ter formação em áreas de conhecimento em separado. Como o foco era a produção de materiais em Matemática, imaginamos que tenham utilizado a História como uma forma auxiliar de alcançar o objetivo inicial. Os demais docentes da rede estadual, não-indígenas, que lecionam em outras escolas (quilombolas, urbanas, campo) não tiveram capacitação para uso desses referenciais em sua prática; eles foram apresentados à comunidade como uma notícia. Talvez, a partir de agora haja uma mobilização para que se expanda o projeto para outras disciplinas.
    Caso tenha interesse em conhecer os e-books, entre em contato pelo email talitaseniuk@gmail.com pois não conseguimos inserir o link aqui (ele some).
    Agradecemos, Junior e Talita.

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